sexta-feira, 8 de novembro de 2013

MEGAPOST: O que há por trás da migração das radios AM para FM

  


   BARÕES DA TELEFONIA DECRETAM A MORTE DA RADIO AM


   A presidenta Dilma Rousseff decretou a extinção do rádio AM, apenas permitindo que suas emissoras possam migrar para o dial de FM. A medida, mesmo festejada pelo setor radiofônico, porém, criará um colapso na já combalida Frequência Modulada. A medida anunciada dias antes atende às pressões dos empresários da telefonia móvel em atuação no Brasil, e que estão por trás dos serviços de "novas mídias digitais" e de provimento de Internet que dominam o mercado brasileiro. Os barões da telefonia não desenvolveram uma tecnologia de telefonia celular compatível para recepção de emissoras AM, e empurraram a Aemização das FMs goela abaixo, culminando agora na decisão "de cima" para a extinção gradual da Amplitude Modulada. 

   A extinção do rádio AM acontece bem antes da faixa de sintonia completar 100 anos, seja levando em conta a informação oficial de que o rádio brasileiro surgiu no Rio de Janeiro em 1923, seja no dado reivindicado pela Rádio Clube de Pernambuco, de reconhecer seu pioneirismo nas transmissões radiofônicas já em 1919. A migração das emissoras AM para o FM, provavelmente, privilegiará as de maiores recursos financeiros, já que as emissoras mais modestas correm o risco de desaparecerem. No rádio FM, emissoras conceituadas já desapareceram, como a rádio de rock Fluminense FM, de Niterói, a Musical FM paulista, de MPB, e a Antena 1 FM carioca, de pop adulto mais selecionado.
    O rádio FM já sofre com a ciranda empresarial e com a chamada propriedade cruzada, em que poderosos grupos de radiodifusão acumulam canais diversos de TV, rádio e serviços de Internet. É também o "paraíso astral" do poder oligárquico, já que em várias regiões do país o rádio FM serve como uma espécie de jagunço eletrônico na manipulação do inconsciente popular. A extinção do rádio AM e a migração de suas emissoras para o dial FM provocará um colapso na Frequência Modulada, que gradualmente perde audiência para a Internet e a televisão. A programação poderá se nivelar por baixo, ante o conteúdo popularesco das AMs "populares", que passarão a ser transmitidas somente em FM, o que aumentará ainda mais seu comercialismo. Isso fará com que ficará bem mais difícil o rádio FM adotar ideias mais requintadas. 
   No momento, há apenas a mobilização de alguns ouvintes pela volta da "rádio rock" Cidade FM carioca, que no entanto investe num perfil rock bastante caricato. No entanto, uma rádio dessas nem de longe pode ser considerado diferencial, até pela linguagem e mentalidade serem bastante idênticas ao de qualquer emissora de pop dançante ou de brega. 
   Portanto, o rádio FM tende a virar uma extensão da TV aberta, entregue a um padrão de programação cada vez mais superficial, alienante e repetitivo. Com muitas ex-AMs expondo sua tagarelice de alguma forma, ao lado de emissoras de brega, de pop dançante e de "rock" ou coisa parecida que adotam o mesmo tipo de locução e linguagem, o colapso do rádio brasileiro é certo. Os institutos de pesquisa e os ambientes corporativistas de radiófilos e colunistas de rádio tentarão anunciar a decisão do fim do rádio AM como uma "boa notícia". Vão dizer que a audiência vai aumentar, que o rádio vai ficar mais dinâmico etc. O problema é que eles muitas vezes adotam o otimismo que se aproxima muito mais dos interesses empresariais. A realidade é mais embaixo. O rádio FM será entregue a um comercialismo absoluto do qual pouca coisa se salvará. Enquanto isso, a maioria da população, indiferente a isso, ficará concentrada nos seus afazeres, sem sintonizar-se a um rádio FM que há muito tempo deixou de estar sintonizado com os ouvintes, tão ocupado estava com o lucro fácil. 

A imagem do vovô ouvindo jogo na gaucha ou guaiba pelo radio Am vai acabar, acabando assim com doces lembranças da nossa infãncia.


    Oficialmente, diz-se que a mudança irá aquecer o setor e que haverá aumento significativo de audiência. Mas, a julgar pela realidade que acontece nas ruas, diferente do que festeja o corporativismo da classe radiófila, a situação não representará a tão sonhada melhoria. pelo contrário, o rádio FM ficará congestionado, e se antes a segmentação era um sonho distante - uma boa ideia dos anos 80 que foi empastelada nos anos 90 e esquartejada depois - , ela hoje ficará morta, já que rádios sem perfil definido prevalecerão na sintonia do dial.O que vai haver também é a pulverização da já problemática - e não assumida - situação do rádio FM, em que emissoras na verdade possuem apenas de 1/6 a 1/40 avos da audiência oficialmente atribuída pelos institutos de pesquisa.Com isso, a audiência já existente não aumentará nem reduzirá (ou tende mais para essa segunda opção), se espalhando para as novas emissoras existentes.Com isso, o rádio FM brasileiro vai virar o "futebol do DJ esclerosado", em que o jabaculê cada vez mais será menos musical, garantindo lucros exorbitantes para políticos, dirigentes esportivos e seitas religiosas. Enquanto isso, o corporativismo radiofônico comemorará uma audiência gigantesca que não haverá e o mercado publicitário sentirá na pele a pouca rentabilidade que terá com a Frequência Modulada, anunciando seus produtos a pouca gente.

Por isso sou mais das radios comunitárias.

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