BARÕES DA TELEFONIA DECRETAM A MORTE DA RADIO AM
A presidenta Dilma Rousseff decretou a extinção do rádio AM, apenas permitindo que suas emissoras possam migrar para o dial de FM. A medida, mesmo festejada pelo setor radiofônico, porém, criará um colapso na já combalida Frequência Modulada. A medida anunciada dias antes atende às pressões dos empresários da telefonia móvel em atuação no Brasil, e que estão por trás dos serviços de "novas mídias digitais" e de provimento de Internet que dominam o mercado brasileiro. Os barões da telefonia não desenvolveram uma tecnologia de telefonia celular compatível para recepção de emissoras AM, e empurraram a Aemização das FMs goela abaixo, culminando agora na decisão "de cima" para a extinção gradual da Amplitude Modulada.
A extinção do rádio AM acontece bem antes da faixa de sintonia completar
100 anos, seja levando em conta a informação oficial de que o rádio
brasileiro surgiu no Rio de Janeiro em 1923, seja no dado reivindicado
pela Rádio Clube de Pernambuco, de reconhecer seu pioneirismo nas
transmissões radiofônicas já em 1919.
A migração das emissoras AM para o FM, provavelmente, privilegiará as de
maiores recursos financeiros, já que as emissoras mais modestas correm o
risco de desaparecerem. No rádio FM, emissoras conceituadas já
desapareceram, como a rádio de rock Fluminense FM, de Niterói, a Musical
FM paulista, de MPB, e a Antena 1 FM carioca, de pop adulto mais
selecionado.
O rádio FM já sofre com a ciranda empresarial e com a chamada
propriedade cruzada, em que poderosos grupos de radiodifusão acumulam
canais diversos de TV, rádio e serviços de Internet. É também o "paraíso
astral" do poder oligárquico, já que em várias regiões do país o rádio
FM serve como uma espécie de jagunço eletrônico na manipulação do
inconsciente popular.
A extinção do rádio AM e a migração de suas emissoras para o dial FM
provocará um colapso na Frequência Modulada, que gradualmente perde
audiência para a Internet e a televisão. A programação poderá se nivelar
por baixo, ante o conteúdo popularesco das AMs "populares", que
passarão a ser transmitidas somente em FM, o que aumentará ainda mais
seu comercialismo.
Isso fará com que ficará bem mais difícil o rádio FM adotar ideias mais
requintadas.
No momento, há apenas a mobilização de alguns ouvintes pela
volta da "rádio rock" Cidade FM carioca, que no entanto investe num
perfil rock bastante caricato. No entanto, uma rádio dessas nem de longe
pode ser considerado diferencial, até pela linguagem e mentalidade
serem bastante idênticas ao de qualquer emissora de pop dançante ou de
brega.
Portanto, o rádio FM tende a virar uma extensão da TV aberta, entregue a
um padrão de programação cada vez mais superficial, alienante e
repetitivo. Com muitas ex-AMs expondo sua tagarelice de alguma forma, ao
lado de emissoras de brega, de pop dançante e de "rock" ou coisa
parecida que adotam o mesmo tipo de locução e linguagem, o colapso do
rádio brasileiro é certo.
Os institutos de pesquisa e os ambientes corporativistas de radiófilos e
colunistas de rádio tentarão anunciar a decisão do fim do rádio AM como
uma "boa notícia". Vão dizer que a audiência vai aumentar, que o rádio
vai ficar mais dinâmico etc. O problema é que eles muitas vezes adotam o
otimismo que se aproxima muito mais dos interesses empresariais.
A realidade é mais embaixo. O rádio FM será entregue a um comercialismo
absoluto do qual pouca coisa se salvará. Enquanto isso, a maioria da
população, indiferente a isso, ficará concentrada nos seus afazeres, sem
sintonizar-se a um rádio FM que há muito tempo deixou de estar
sintonizado com os ouvintes, tão ocupado estava com o lucro fácil.
A imagem do vovô ouvindo jogo na gaucha ou guaiba pelo radio Am vai acabar, acabando assim com doces lembranças da nossa infãncia.
Oficialmente, diz-se que a mudança irá aquecer o setor e que haverá
aumento significativo de audiência. Mas, a julgar pela realidade que
acontece nas ruas, diferente do que festeja o corporativismo da classe
radiófila, a situação não representará a tão sonhada melhoria. pelo contrário, o rádio FM ficará congestionado, e se antes a
segmentação era um sonho distante - uma boa ideia dos anos 80 que foi
empastelada nos anos 90 e esquartejada depois - , ela hoje ficará morta,
já que rádios sem perfil definido prevalecerão na sintonia do dial.O que vai haver também é a pulverização da já problemática - e não
assumida - situação do rádio FM, em que emissoras na verdade possuem
apenas de 1/6 a 1/40 avos da audiência oficialmente atribuída pelos
institutos de pesquisa.Com isso, a audiência já existente não aumentará nem reduzirá (ou tende
mais para essa segunda opção), se espalhando para as novas emissoras
existentes.Com isso, o rádio FM brasileiro vai virar o "futebol do DJ esclerosado",
em que o jabaculê cada vez mais será menos musical, garantindo lucros
exorbitantes para políticos, dirigentes esportivos e seitas religiosas.
Enquanto isso, o corporativismo radiofônico comemorará uma audiência
gigantesca que não haverá e o mercado publicitário sentirá na pele a
pouca rentabilidade que terá com a Frequência Modulada, anunciando seus
produtos a pouca gente.
Por isso sou mais das radios comunitárias.
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