Fogo-fátuo (ignis fatuus em latim), também chamado de Fogo
tolo ou, no interior do Brasil, Fogo corredor ou João-galafoice, enterro de ouro, boitatá é uma luz
azulada que pode ser avistada em pântanos, brejos etc. É a inflamação
espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres
vivos: plantas e animais típicos do ambiente.
É um impressionante fenômeno que costuma ocorrer em
cemitérios ou pântanos. De tempos em tempos, surgem misteriosas chamas
azuladas, que aparecem por alguns segundos na superfície e logo depois
somem sem deixar vestígios. Hoje, os cientistas sabem que esse fogo
esquisito está ligado à decomposição dos corpos de seres vivos. Nesse
processo, as bactérias que metabolizam a matéria orgânica produzem gases
que entram em combustão espontânea em contato com o ar. "Ocorre uma
pequena explosão e a chama azulada vem acompanhada de um estrondo que
assusta quem está por perto", afirma o químico Luiz Henrique Ferreira,
da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Com tudo isso, não é de
se espantar que o fenômeno alimente lendas de fantasmas, assombrações e
almas penadas. No Brasil, ele deu origem a um dos primeiros mitos
indígenas de que se tem notícia: o boitatá, a enorme serpente de fogo
que mata quem destrói as florestas.
O fogo-fátuo chegou a ser descrito, ainda em 1560, pelo jesuíta português José de Anchieta: "Junto do mar e dos rios, não se vê outra coisa senão o boitatá, o facho cintilante de fogo que rapidamente acomete os índios e mata-os."
O fogo-fátuo chegou a ser descrito, ainda em 1560, pelo jesuíta português José de Anchieta: "Junto do mar e dos rios, não se vê outra coisa senão o boitatá, o facho cintilante de fogo que rapidamente acomete os índios e mata-os."
Chamas do além
Gases de decomposições alimentam o estranho fenômeno
1. Quando um ser vivo morre, várias espécies de bactérias entram em
ação para decompor a matéria orgânica. Nesse processo, ocorre a produção
de dois gases, o metano e a fosfina, que serão os responsáveis pelo
fenômeno do fogo-fátuo
2. Aos poucos, a concentração desses gases cresce, por exemplo, dentro de um caixão. Isso aumenta a pressão no subsolo, fazendo com que a mistura vaze por pequenas fendas e suba em direção à superfície, esgueirando-se pelos poros da terra
3. Na superfície, em contato com o oxigênio do ar, os dois gases entram em combustão espontânea, produzindo uma chama azulada. Tudo ocorre rápido e a chama não dura mais que alguns segundos
4. Para quem está perto do fenômeno, a reação instintiva é correr. O problema é que esse movimento causa um deslocamento brusco de ar, puxando a chama e dando a impressão de que ela tenta perseguir a vítima - como um fantasma, uma alma penada ou o boitatá dos índios brasileiros.
2. Aos poucos, a concentração desses gases cresce, por exemplo, dentro de um caixão. Isso aumenta a pressão no subsolo, fazendo com que a mistura vaze por pequenas fendas e suba em direção à superfície, esgueirando-se pelos poros da terra
3. Na superfície, em contato com o oxigênio do ar, os dois gases entram em combustão espontânea, produzindo uma chama azulada. Tudo ocorre rápido e a chama não dura mais que alguns segundos
4. Para quem está perto do fenômeno, a reação instintiva é correr. O problema é que esse movimento causa um deslocamento brusco de ar, puxando a chama e dando a impressão de que ela tenta perseguir a vítima - como um fantasma, uma alma penada ou o boitatá dos índios brasileiros.
Os fogos fátuos dão origem a muitas superstições populares.
Acredita-se que sejam espíritos diabólicos que molestam ou fazem extraviar-se
os viajantes ou afastar alguém que tenta se aproximar. Há quem os consideram
como presságios de morte ou desgraças. Algumas populações da África, inclusive
no sul de Moçambique, enterra os seus mortos, de propósito, a poucos
centímetros de profundidade, para verem o fogo fátuo, que seria o espírito do
morto que sai do corpo.
Fenômeno
Quando um corpo orgânico começa a entrar em putrefação,
ocorre a emissão do gás fosfina (PH3).
Os fogos-fátuos são produtos da combustão da fosfina gerados
pela decomposição de substâncias orgânicas, ou a fosforescência natural dos
sais de cálcio presentes nos ossos enterrados.
Muitos que avistam o fenômeno tendem a evacuar o local
rapidamente, o que, devido ao deslocamento do ar, faz com que o fogo fátuo
mova-se na mesma direção da pessoa. Tal fato leva muitos a acreditar que o
fenômeno se trata de um evento sobrenatural, tais como espíritos, fantasmas,
dentre outros.
Criaturas folclóricas
Onde aparece o fogo-fátuo, há folclore e histórias de
criaturas como espíritos e fantasmas culpadas por esse fenomêno:
Hinkypunk: ocorre
no folclore do sudoeste da Inglaterra. Um hinkypunk é um espírito malévolo que
se diverte em atrapalhar e até causar a morte de viajantes que passam por
terras remotas pela noite. Sua ação ocorre da seguinte forma: ao avistar um
andarilho, o Hinkypunk acende sua tocha. O viajante, cansado, fica feliz em ver
a tocha acesa e corre em direção à luz, apercebendo-se tardiamente que fora
atraído direto para um penhasco, areia movediça ou uma vala.
Pwca: presente no
folclore galês. O Pwca, uma criatura com cabeça de um corvo sorridente, cauda
de macaco e corpo de fumaça, vive em despenhadeiros, onde gosta de atrair
pessoas com música vinda de um violino que carrega. Quando vê sua vítima, o
Pwca lhe dá conselhos enganadores, ludibriando e enganando a pessoa, que se
perde nas colinas e campos.
Boitatá: Uma
gigantesca cobra de fogo do folclore brasileiro, avistadas em brejos, onde
espanta e come pescadores incautos que prejudicam a vida dos peixes e de sua
lagoa ou protegendo rios. O Boitatá também protege as florestas de queimadas,
podendo se transformar em uma tora de madeira em brasa e queimar quem ameaça
seus rios.
Kelpie: é a alma
de um animal transformada em um cavalo, o Kelpie é um cavalo prateado que vive
em grandes lagos e que só aparece em noites de luar. Quando aparece para uma
pessoa, o Kelpie se mostra gentil, permitindo que a pessoa o cavalgue, até ele
voltar para seu lar e matar por afogamento sua montaria.
Hitodama (人魂,
ひとだま):
do folclore japonês. Quando alguém morre, sua alma sai do corpo com uma forma
imaterial e globular, uma esfera brilhante que se chama hitodama. Segundo essas
lendas, a pessoa pode tomá-la para si antes que vá para o outro mundo. Costuma
ser carregada por animais como pássaros e raposas.
O BOITATÁ - Por J. Simões Lopes Neto - Autor de Contos
Gauchescos e Lendas do Sul.
Foi assim: num tempo muito antigo, muito mesmo, houve uma
noite tão comprida que pareceu que nunca mais haveria luz do dia. Noite escura
como breu, sem lume no céu, sem vento, sem serenada e sem rumores, sem cheiro
dos pastos maduros nem das flores da mataria.
Os homens viveram abichornados, na tristeza dura; e porque
churrasco não havia, não mais sopravam labaredas nos fogões e passavam comendo
canjica insossa; os borralhos estavam se apagando e era preciso poupar os
tições... Os olhos andavam tão enfarados da noite, que ficavam parados, horas e
horas, olhando sem ver as brasas somente, porque as faíscas, que alegram, não
saltavam, por falta do sopro forte de bocas contentes.
Naquela escuridão fechada nenhum tapejara seria capaz de
cruzar pelos trilhos do campo, nenhum baguá crioulo teria faro nem ouvido nem
vista para abter na querência; até nem sorro daria no seu próprio rastro!
E a noite velha ia andando... ia andando...
Minto:
No meio do escuro e do silêncio morto, de vez em quando, ora
duma banda ora doutra, de vez em quando uma cantiga forte, de bicho vivente,
furava o ar: era o téu-téu ativo, que não dormia desde o entrar do último sol e
que vigiava sempre, esperando a volta do sol novo, que devia vir e que tardava
tanto já...
Só o téu-téu de vez em quando cantava; o seu - quero-quero!
- tão claro, vindo de lá do fundo da escuridão, ia se aguentando a esperança
dos homens, amontoados no redor avermelhado das brasas. Fora disto, tudo o mais
era silêncio; e de movimento, então, nem nada.
Minto:
Na última tarde em que houve sol, quando o sol ia
descambando para o outro lado das coxilhas, rumo do minuano, e de onde sobe a
estrela-d'alva, nessa última tarde também desabou uma chuvarada tremenda; foi
uma manga d'água que levou um tempão a cair, e durou... e durou...
Os campos foram inundados; as lagoas subiram e se largaram
em fias coleando pelos tacuruzais e banhados, que se juntaram, todos, num; os
passos cresceram e todo aquele peso d'água correu para as sangas e das sangas
para os arroios, que ficaram bufando, campo fora, afogando as canhadas, batendo
no lombo das coxilhas. E nessas coroas é que ficou sendo o paradouro da
animalada, tudo misturado, no assombro. E eram terneiros e pumas, tourada e
potrilhos, perdizes e guaraxains, tudo amigo, de puro medo. E então!...
Nas copas dos butiás vinham encostar-se bolos de formigas;
as cobras se enroscavam na enrediça dos aguapés; e nas estivas do santa-fé e
das tiriricas boiavam os ratões e outros miúdos.
E, como a água encheu todas as tocas, entrou também na da
cobra-grande, a - boiguaçu- que, havia já muitas mãos de luas, dormia quieta,
entanguida. Ela então acordou-se e saiu, rabeando. Começou depois a mortandade
dos bichos e a boiguaçu pegou a comer carniça. Mas só comia os olhos e nada,
nada mais.
A água foi baixando, a carniça foi cada vez engrossando, e a
cada hora mais olhos a cobra-grande comia.
Cada bicho guarda no corpo o sumo do que comeu.
A tambeira que só come trevo maduro, dá no leite o cheiro
doce do milho verde; o cerdo que come carne de bagual nem vinte alqueires de
mandioca o limpam bem; e o socó tristonho e o biguá matreiro até no sangue têm
cheiro de pescado. Assim também, nos homens, que até sem comer nada, dão nos
olhos a cor de seus arrancos. O homem de olhos limpos é guapo e mão-aberta;
cuidado com os vermelhos; mais cuidado com os amarelos; e, toma cuidado dobrado
com os raiados e baços!...
Assim foi também, mas doutro jeito, com a boiguaçu, que
tantos olhos comeu.
Todos - tantos, tantos! que a cobra-grande comeu -,
guardavam, entrenhado e luzindo, um rastilho da última luz que eles viram do
último sol, antes da noite grande que caiu... E os olhos - tantos, tanto! - com
um pingo de luz cada um, foram sendo devorados; no princípio um punhado, ao
depois uma porção, depois um bocadão, depois, como uma braçada...
E vai,
Como a boiguaçu não tinha pêlos como o boi, nem escamas como
o dourado, nem penas como o avestruz, nem casca como o tatu, nem couro grosso
como a anta, vai, o seu corpo foi ficando transparente, transparente, clareando
pelos miles de luzezinhas, dos tantos olhos que foram sendo esmagados dentro
dele, deixando cada qual sua pequena réstia de luz. E vai, afinal, a boiguaçu
toda já era uma luzerna, um clarão sem chamas, já era um fogaréu azulado, de
luz amarela e triste e fria, saída dos olhos, que fora guardada neles, quando
ainda estavam vivos.
Foi assim e foi por isso que os homens, quando pela primeira
vez viram a boiguaçu tão demudada, não a conheceram mais. Não conheceram e
julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então, de boitatá, cobra
do fogo, boitatá, a boitatá! E muitas vezes a boitatá rondou as rancherias,
faminta, sempre que nem chimarrão. Era então que o téu-téu cantava, como o
bombeiro.
E os homens, por curiosos, olhavam pasmados, para aquele
grande corpo de serpente, transparente - tatá, de fogo- que media mais braças
que três laços de conta e ia aluminando baçamente as carquejas... E depois,
choravam. Choravam, desatinados do perigo, pois as suas lágrimas também
guardavam tanta ou mais luz que só os olhos e a boitatá ainda cobiçava os olhos
vivos dos homens, que já os das carniças a enfaravam...
Mas, como dizia:
na escuridão só avultava o clarão baço do corpo da boitatá,
e era ela que o téu-téu cantava de vigia, em todos os flancos da noite. Passado
um tempo, a boitatá morreu: de pura fraqueza morreu, porque os olhos comidos
encheram-lhe o corpo mas lhe não deram substância, pois que sustância não tem a
luz que os olhos em si entranhada tiveram quando vivos...
Depois de rebolar rabiosa nos montes de carniça, sobre os
couros pelados, sobre as carnes desfeitas, sobre as cabelamas soltas, sobre as
ossamentas desparramadas, o corpo dela desmanchou-se, também como cousa da
terra, que se estraga de vez. E foi então, que a luz que estava presa se
desatou por aí. E até pareceu cousa mandada: o sol apareceu de novo!
Minto:
apareceu sim, mas não veio de supetão. Primeiro foi-se
adelgaçando o negrume, foram despontando as estrelas; e estas se foram sumindo
no coloreado do céu; depois se foi sendo mais claro, mais claro, e logo, na
lonjura, começou a subir um rastro de luz..., depois a metade de uma cambota de
fogo... e já foi o sol que subiu, subiu, subiu, até vir a pino e descambar,
como dantes, e desta feita, para igualar o dia e a noite, em metades, para
sempre.
Tudo o que morre no mundo se junta à semente de onde nasceu,
para nascer de novo; só a luz da boitatá ficou sozinha, nunca mais se juntou
com a outra luz de que saiu. Anda arisca e só, nos lugares onde quanta mais
carniça houve, mais se infesta. E no inverno, de entanguida, não aparece e
dorme, talvez entocada. Mas de verão, depois da quentura dos mormaços, começa
então o seu fadário.
A boitatá, toda enroscada, como uma bola - tatá, de fogo! -,
empeça a correr o campo, coxilha abaixo, lomba acima, até que horas da noite!...
É um fogo amarelo e azulado, que não queima a macega seca nem aquenta a água
dos manatiais; e rola, gira, corre, corcoveia e se despenca e arrebenta-se,
apagado... e quando um menos espera, aparece, outra vez, do mesmo jeito!
Maldito! Tesconjuro!
Quem encontra a boitatá pode até ficar cego... Quando alguém
topa com ela só tem dois meios de se livrar: ou ficar parado, muito quieto, de
olhos fechados apertado e sem respirar, até ir-se ela embora, ou, se anda a
cavalo, desenrodilhar o láco, fazer uma armada grande e atirar-lha por cima, e
tocar a galope, trazendo o laço de arrasto, todo solto, até a ilhapa!
A boitatá vem acompanhando o ferro da argola... mas de
repente, batendo numa macega, toda se desmancha, e vai esfarinhando a luz, para
emulitar-se de novo, com vagar, na aragem que ajuda.
Campeiro precatado! Reponte o seu gado de querência da
boitatá: o pastiçal, aí, faz peste... Tenho visto!
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