Tubarão sente gosto de sangue a muitos kilometros
É um impressionante fenômeno que costuma ocorrer em
cemitérios ou pântanos. De tempos em tempos, surgem misteriosas chamas
azuladas, que aparecem por alguns segundos na superfície e logo depois
somem sem deixar vestígios. Hoje, os cientistas sabem que esse fogo
esquisito está ligado à decomposição dos corpos de seres vivos. Nesse
processo, as bactérias que metabolizam a matéria orgânica produzem gases
que entram em combustão espontânea em contato com o ar. "Ocorre uma
pequena explosão e a chama azulada vem acompanhada de um estrondo que
assusta quem está por perto", afirma o químico Luiz Henrique Ferreira,
da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Com tudo isso, não é de
se espantar que o fenômeno alimente lendas de fantasmas, assombrações e
almas penadas. No Brasil, ele deu origem a um dos primeiros mitos
indígenas de que se tem notícia: o boitatá, a enorme serpente de fogo
que mata quem destrói as florestas.
O fogo-fátuo chegou a ser descrito, ainda em 1560, pelo jesuíta
português José de Anchieta: "Junto do mar e dos rios, não se vê outra
coisa senão o boitatá, o facho cintilante de fogo que rapidamente
acomete os índios e mata-os."